13 março 2015

Contradições e luta

Conflito social nas ruas

Luciano Siqueira

Duas manifestações articuladas para acontecerem em várias cidades simultaneamente – a de hoje e a do próximo domingo – provavelmente reflitam o conflito social no Brasil em tempo de mudanças e de crise mundial.

Por duas razões.

A primeira: as inegáveis conquistas decorrentes da linha de desenvolvimento econômico com inclusão social, experimentada desde o primeiro governo Lula e continuadas por Dilma.

Mais de quarenta milhões de brasileiros saíram da existência em condições abaixo da linha da pobreza e da pobreza extrema e se incluíram no mercado de trabalho e de consumo. Tal proeza contraria frontalmente as elites dominantes e, na medida em que não contemplou na mesma proporção vasta parcela da camada média da população, semeia aí certo desconforto.

Não são poucos os que, sem nenhum pejo, como artistas de renome, se dizem incomodados com tantos pobres nos aeroportos e nos voos comerciais e em shopping centers.

A segunda razão: os impasses de nossa economia, em grande parte decorrentes de pressões externas advindas da crise global. A queda dos preços internacionais de commodities – item destacado de nossa pauta de exportações – é um exemplo. A desvantagem competitiva da indústria aqui instalada, idem.

Ameaças inflacionárias, retenção de novas oportunidades de trabalho, incerteza reais e ampliadas pela cobertura catastrófica da mídia geram uma sensação de insegurança que se dissemina na sociedade.

Sob nuvens ameaçadoras, o instinto de sobrevivência e a gama de preconceitos antes abafada influenciam o comportamento das pessoas. Da elite rentista e das camadas dos mais abastados ou que assim se consideram. E também dos que compõem a base da pirâmide social e têm melhorado de vida.

No domingo, sob estímulo de partidos conservadores e do complexo midiático oposicionista, o mote é o desejo do impeachment da presidenta Dilma – que, mesmo sem base real e sem sustentação jurídica, serve como palavra de ordem para galvanizar insatisfações e desgastar o governo. A denúncia da corrupção é uma das bandeiras, mas a supressão do financiamento de campanhas eleitorais por grupos econômicos, não.

Nesta sexta-feira, com a contribuição de partidos de esquerda e do campo progressista, do MST e centrais sindicais e da UNE, UBES e CONAM, ainda que sob certa dispersão pelo desejo de reafirmar bandeiras de lutas e defender conquistas recém-alcançadas (por parte dos movimentos sociais), objetivamente a defesa do governo Dilma e da legalidade democrática é a pedra de toque. O verdadeiro combate à corrupção via reforma política que extirpe o financiamento de campanhas por grupos econômicos é uma das bandeiras.

Certamente o contaste visual dirá muito. Hoje, predominarão nas ruas os que vivem do trabalho, a juventude estudantil atuante e camadas populares difusas. Domingo, os bem aquinhoados e bem vestidos.

 O conflito social vai às ruas, toma forma e ganha visibilidade – com implicações políticas a conferir.

Publicado no Jornal da Besta Fubana

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