21 março 2015

História viva

Aniversário

Joana Côrtes

Em casa, éramos cinco, mas sempre comemoramos seis aniversários. O dia em que cada um nasceu, mainha, painho, Edu, Marcão, eu, e o dia 20 de março. Com música alta na sala, com brindes à mesa, com abraços e aconchegos, sempre lembramos e sentimos esse dia. O dia que minha mãe, mulher corajosa do cabrunco!, reencontrou meu pai, depois de loooonga espera, cinco anos e dois filhos depois, a liberdade dos dias e do amor. Com margaridinhas amarelas compradas no Mercado São José, com a acolhida dos amigos do Recife e de Aracaju.
Há 36 anos, painho saía da prisão em Itamaracá. Coração arrebatado, pelos amigos que ainda ficaram por lá, e pela possibilidade real de estar livre. Ia matar a saudade dos pais e das irmãs no Rio, do irmão que exilado, não via há mais de dez anos. Do banho do mar e da areia da Atalaia. Do calor dos filhos que não viu nascer, nem crescer, Edu até os 4 anos, saudade banguela. Ia sentir o vento, ia ver o céu todo azul, reencontrar os amigos, se refazer. Ia conhecer a casa da Aloísio Braga, ia amar a mulher que lhe esperou e esteve junto sempre, ia criar os filhos e me fazer. Íamos viajar bastante, aproveitar os dias e a luz que a ditadura nos tirou.
Que bom, pai e mãe, vocês vivos e libertários entre nós para cantar e comemorar a vida e ver nosso Vinícius crescer.
"Estar vivo, com saúde e LIVRE. O resto não tem problema", como você mesmo me falou hoje, das três melhores coisas da vida.

Feliz Aniversário para todos nós.
Viva à vida. Viva à liberdade.

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