24 março 2015

Saída pela tática

Para quem pode. E quer

Luciano Siqueira, no Blog da Folha

Nem precisa consultar compêndios de história política - embora, desde priscas eras, a lição esteja inscrita na experiência dos povos do mundo. E do povo brasileiro também.
Em toda e qualquer peleja, os lados oponentes buscam, cada qual a seu modo, reunir forças no intuito de sobrepujar o adversário.
Vladimir Ilytch Uliánov, conhecido por Lênin, genial líder da Revolução Russa, resumiu: trata-se de unir as forças estrategicamente comprometidas com o objetivo comum, atrair todas as demais suscetíveis de serem atraídas - mesmo vacilantes e apenas momentaneamente aliadas - e neutralizar as que não admitem a aliança, para isolar e derrotar o adversário principal.
Isto porque cumpre construir correlação de forças favorável, sem o que a vitória mostra-se praticamente impossível.
E disse mais: a alma da política é a tática, e a essência da tática está na correlação de forças.
Dito assim, parece que estamos rascunhando um esquema meramente teórico. Mas não é. Vale para as grandes e prolongadas batalhas e para as lutas setoriais, imediatas, de curto prazo. 
Vale sobretudo para a presidenta Dilma, que enfrenta atribulado início do seu segundo governo.
Pois se é certo que uma confluência de fatores negativos - externos e internos - em muito contribui para a situação atual adversa, é igualmente certo que a saída há de ser pela política. Quer dizer: mediante tática correta e consequente.
E bem que a presidenta pode trabalhar nessa direção. Tem muito que apresentar - inclusive quanto ao combate à corrupção. 
Poder, pode; cabe verificar se quer.
Não faltam à presidenta escopo moral, coragem política, determinação. 
Faltam à presidenta - pelo menos assim parece - vontade de trilhar um caminho tático hábil e objetivo.
As forças com as quais pode se aliar são as forças em presença na cena política nacional. De nada adianta o desejo de que não fossem essas, e sim outras - de perfil e comportamento mais elevado.
E tem a força das ruas, que as implicações imediatas do ajuste fiscal dificultam sensibilizar, unir e mobilizar. 
No campo oposto, as oposições não têm um programa alternativo ao do governo, têm a linha do retrocesso e do aprofundamento das dificuldades econômicas via cartilha pró oligarquia rentista, em prejuízo da grande maioria. 
Assim, a pedra de toque hoje, do ponto de vista do governo, é a união de forças - a partir de um núcleo de apoio direto à presidenta, no âmbito do ministério, passando pelos partidos e segmentos sociais identificados com as transformações processadas nos últimos doze anos e alcançando segmentos outros que, embora conservadores, não desejam a instabilidade política e econômica e o caos. 

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