27 maio 2015

Terreno pantonoso

Fica como está sem mudar

Luciano Siqueira, no Blog de Jamildo/portal ne10

Logo após o encerramento da sessão de ontem, já no início da madrugada de hoje, na Câmara dos Deputados, começou a profusão de análises críticas (na essência, nem tanto) ao que se tem chamado, nas diversas mídias, derrota de Eduardo Cunha.

O ultra-prepotente presidente da Câmara, apoiado na maioria conservadora que lhe dá sustentação, atravessou o samba, destruiu na prática a Comissão Especial que se ocupou da reforma política e levou a matéria diretamente ao plenário, para votação, item a item, do relatório do deputado Rodrigo Maia, feito às pressas, destinado a consignar a dita reforma. De quebra, com a tentativa de transformar em norma constitucional o financiamento empresarial privado de campanhas eleitorais.

Incluir o dispositivo no texto constitucional para evitar que o STF o considere inconstitucional, conforme já se pronunciaram nesse sentido 11 membros da Corte. O ministro Gilmar Mendes, sempre ele a cumprir o pior dos papéis, segura em sua gaveta a matéria, sobre a qual pediu vista, justamente para aguardar que Eduardo Cunha e sua turma lograssem êxito na votação que se deu ontem. E foi derrotado.

Onde reside a hipocrisia de muitos "analistas" que hoje se esmeram em reclamar da ausência de reforma? Justamente no fato de que, verdadeiramente, jamais a defenderam. 

Ora, mudar dispositivos secundários (embora alguns possam ter relativa importância) sem tocar no essencial equivale a seguir a máxima do personagem de Giusepe di Lampedusa, o príncipe Falconieri, para quem "tudo deve mudar para que tudo fique como está".

O essencial seria justamente a extinção do financiamento empresarial privado de campanhas, que permanecerá intocável, ainda que não se tenha constitucionalizado, e a adoção do sistema de listas partidárias preordenadas para a disputa de cargos parlamentares.

Dois pilares de uma reforma efetivamente democratizante.

O fim do financiamento empresarial privado cortaria pela raiz um dos principais fatores de corrupção institucional.

As listas de candidatos proporcionais preordenadas pelos partidos conduziriam o eleitor a votar em legendas, e não apenas nos indivíduos, mediante debate de suas propostas programáticas e de suas plataformas. Um fator de elevação da consciência política cidadã, indispensável ao avanço do processo civilizatório brasileiro.

Esses dois dispositivos, que integram a essência da proposta encabeçada pela OAB e pela CNBB, à frente de mais de 100 entidades da sociedade civil, na Coalizão pela Reforma Política Democrática e Eleições Limpas, sequer são considerados na quase totalidade dos textos divulgados pelos muitos "analistas" que pontificam no complexo midiático dominante. 

Bem, mas a porfia no Congresso Nacional não terminou. Tem muita água a correr por debaixo da ponte. Pena que sob os olhares ainda pouco atentos da grande opinião pública, que manifesta um desejo difuso de que alguma reforma seja feita, mas pouco afeita às questões de conteúdo.

Tudo isso conforma o cenário momentaneamente adverso a que se mude de fato, na essência, o sistema político-eleitoral brasileiro, de modo a fortalecer a representação partidária e a elevar o nível de compreensão da maioria dos eleitores.

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