16 novembro 2015

Uma crônica minha para descontrair

Ler é um santo remédio

Luciano Siqueira, no Jornal da Besta Fubana

Costumo dizer que gostaria de ter vivido em meados do século 19, quando a gente podia se interessar por muitos assuntos e adquirir conhecimentos em nível razoável. A informação não tinha um milésimo de velocidade que tem hoje, o que coloca pessoas volúveis como eu em temendo embaraço. 
Explico: sou um inveterado curioso; e desconheço a área do conhecimento humano que não me atraia. Mas é impossível manter o interesse vivo, e saciá-lo, quando se produz a cada segundo mais conhecimento científico, novas aplicações tecnológicas em todas as áreas. Quem se dedica a atividade acadêmica, por exemplo, e assina sites especializados na divulgação da produção científica - ensaios, artigos, relatórios de pesquisa, etc. - costuma dizer que, da noite para o dia, novos comunicados são postos à disposição do interessado, de modo que se dá o risco da dispersão. O cara quer saber de tudo e termina sabendo muito pouco de algumas coisas. 
Essa pisada já vem de algum tempo e ganhou fenomenal impulso com a internet. Tudo o que existe, ou o que se inventa, cai na rede e vira informação disponível. Uma miríade interminável.
Como fica um sujeito feito eu diante disso? Ora, fica em maus lençóis se não encontrar o bom método para a busca de informação e o seu processamento. Há que ter foco, capacidade de apreensão do conteúdo essencial e fazer as inter-relações devidas.
O danado é que sou desafiado pela leitura de jornais diários, livros e sites. Dos jornais não posso abrir mão - pelo menos os três de Pernambuco, por dever de ofício. De sites e blogs noticiosos ou analíticos, idem. E dos livros - paixão irrefreável desde a adolescência - jamais poderei me separar.
É aí que entra a tal "leitura dinâmica" - nos termos que desenvolvi por conta própria, e que vem me ajudado bastante. Ler o essencial, assim definido em função do foco, ou seja, do que interessa saber no momento da leitura. Se não há foco a leitura se faz dispersiva, quase imprestável. Isso é como você abrir a porta de um quarto onde se guardam os mais variados objetos; se não sabe o que procura, tudo vê e nada encontra. 
O tema reforma política é um bom exemplo. Há verdadeiros tratados a respeito, além de notícias fragmentadas. Basta buscar no Google para se deparar uma infinidade de referências. Mas se você tiver direcionado sua pesquisa para dois elementos centrais na reforma política de sentido democrático, o financiamento público de campanha e a adoção de listras pré-ordenadas pelos partidos para a disputa de cargos no parlamento, não há risco de dispersão. 
Ainda acrescento outro artifício - ficha de leitura.  No passado, usava aqueles cartões pautados e fazia minhas anotações à mão ou datilografava. Com o advento do computador, digito e salvo em arquivo temático. Hoje como antes, a ficha de leitura me ajuda muito, sobretudo porque tenho boa memória visual e fixo o que anotei - o que me é de grande valia na construção de roteiros para palestras e mesmo para artigos. 
Mas é bom sublinhar que não há fórmula nem manual que ensine isso. Nem a solução que construí para minha própria orientação serve para você que me lê agora. Cada um bola seu próprio esquema - sua versão de "leitura dinâmica" e o jeito de anotar, se for o caso. 
Agora confesso que experimento certo remorso em relação aos livros. É que os visito para ler o que momentaneamente me atrai, e isso me leva frequentemente a ler partes da obra, e não obra toda. Que me perdoem os autores. Salvam-se os textos estritamente literários, assim mesmo quando se trata de coletâneas de contos ou crônicas ou poesia, leio partes e deixo o restante para uma próxima oportunidade. Em geral retorno, leio o que tinha ficado para depois e releio o que tinha lido antes. Puro deleite.
Seja qual for a fórmula que cada um crie, vale reconhecer - hoje como nunca - que ler faz um bem danado à saúde.
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