17 novembro 2015

Uma luta de sentido civilizatório

Desigualdade persistente

Luciano Siqueira, no Blog da Folha

Uma informação, dentre muitas de grande importância, revelada pela última versão da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do IBGE, confirma uma expressão da desigualdade de gênero das mais contundentes: em média as mulheres recebem salários que chegam a 70,7% do que é pago aos homens. 

Isto quando já se constata que mulheres e homens praticamente dividem meio a meio o mercado de trabalho, subproduto da notável evolução da presença da mulher em todas as esferas da vida social em nosso País, nas últimas quatro décadas. 

Na verdade, ocorre no Brasil o mesmo fenômeno que marca o fim do século 20 e se acentua no século 21: como uma espécie de retorno a um ponto de partida milenar, para um recomeço em novas bases, a divisão social do trabalho dá azo a que gradativamente ressurja a possibilidade um padrão de relativa igualdade, perdida desde que surgiram as classes sociais como desdobramento da comunidade primitiva.

Com o advento das tribos, que disputaram territórios para o cultivo e guerrearam com rivais.
Nos conflitos, as mulheres permaneceram na aldeia em companhia das crianças e dos idosos, enquanto os homens foram à luta, de onde retornaram senhores de escravos e de terra, dando lugar à divisão de classes e à separação entre a mulher e o homem conforme os papeis distintos que passaram a exercer.

Esse traço evolutivo das relações de produção e de convivência – mencionados aqui assim de modo simplificado - permeiam a sociedade humana até hoje.

E é precisamente quando a mulher deixa o forno e fogão e sai em busca do sustento da família - e assim ocupa outro papel na vida social - que se criam condições objetivas mais favoráveis à luta pela igualdade de gênero.

Não é uma luta simples, entretanto. Necessariamente de longuíssima duração, essencial ao processo civilizatório, requer a formação de uma consciência social avançada, fruto da combinação da experiência prática com a reflexão e o debate sobre a condição da mulher na sociedade moderna. 

No percurso, anotamos muitas conquistas, inclusive no âmbito institucional, nas três esferas federativas, a partir mesmo da Constituição de 1988, que reconheceu as peculiaridades da mulher e seus direitos específicos. 

Mas a resistência conservadora é imensa, inclusive agora sob uma composição em grande parte reacionária do Congresso Nacional, que ameaça as mulheres com o retrocesso em relação a direitos conquistados.

O dado da Pnad, portanto, chama a atenção para a justeza, a oportunidade e a dimensão dessa luta - que é de todos nós - pela igualdade de gênero.

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