26 janeiro 2016

Panorama sombrio

O tamanho da crise

Luciano Siqueira, no Blog da Folha

Não se trata de combater a visão parcial e distorcida da crise brasileira, que a exime de qualquer relação com a crise global – como costumam fazer, com propósito político explícito, oposicionistas e seus arautos na mídia hegemônica.
Também não é o caso de minimizar as contradições, ineficiências e equívocos próprios, historicamente considerados e postos à tona na crise atual.
Cabe, sim, chamar atenção para o agravamento da crise social global e suas implicações.
Às vésperas do Fórum Mundial, reunido em Davos, na Suíça, a ONG inglesa Oxfam informou, com base em estudos recentes, que há cinco anos a riqueza acumulada por 388 multimilionários era equiparada com a quantidade de capital que a metade mais pobre da população mundial possuía.
Hoje, essa relação despencou para 62 pessoas – uma fenomenal concentração de riqueza!
(Com um detalhe: dois brasileiros integram esse grupo e, ao que se sabe, acumularam suas fortunas especulando no mercado financeiro).
É gente que se beneficia da finacneirização da economia capitalista em toda linha, fenômeno que se acentua nas últimas décadas – e que produz as chamadas bolhas financeiras, alimentadas pelo capital fictício de que falava Karl Marx.
Não é diretamente a exploração do trabalho humano a principal fonte dessas fortunas acumuladas.
Uma contradição intrínseca ao sistema, que em perspectiva gera objetivamente a sua falência.
É certo que o capitalismo tem em suas crises cíclicas uma característica própria, uma espécie de perverso mecanismo de realimentação.
Mas igualmente certo que, nas últimas cinco décadas, essas crises têm encurtado o espaço de tempo entre uma e outra.
Com um agravante: a crise atual – estrutural, sistêmica e sem sinais de superação |á vista -, deflagrada em 2008, tem dimensão muito maior e mais grave do que a de 1929, até então considerada a segunda maior crise do sistema capitalista.
Outro aspecto desse cenário sombrio é a previsão de que, na esteira do incremento de novas tecnologias ao sistema produtivo – a chamada quarta revolução industrial, movida pela inteligência artificial, robótica, impressão 3D, nanotecnologia e outras inovações – serão liquidados cerca de cinco milhões de empregos nos próximos cinco anos.
Isto acontecerá, sobretudo, nas economias mais desenvolvidas e nos países emergentes, incluindo o Brasil.
Pode um sistema que despreza o trabalho humano e, guiado cegamente pela ânsia do lucro financeiro infinito, sobreviver infinitamente?
A resposta é não. Daí serem fundadas as previsões de que nas próximas décadas um novo surto de transformações sociais se instalará no mundo.
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