18 fevereiro 2016

Pontos ganhos, fatores de risco

Tudo faz sentido em tempo de crise

Luciano Siqueira, no portal Vermelho

Se tudo vale a pena quando a alma não é pequena, como nos ensina o poeta Fernando Pessoa, em tempo de crise uma folha sequer não se move sem que algum significado tenha. 
A eleição do líder da bancada do PMDB na Câmara, ontem, por exemplo: vale dois pontos, um a favor das forças que se colocam pela governabilidade e pelo sepultamento das tentativas de impeachment da presidenta Dilma; outro contra o desgastado presidente da Câmara, Eduardo Cunha, que esperneia entre à execração pública e manobras regimentais, na tentativa de permanecer no cargo, ou pelo menos, conservar seu mandato.
Pesa também, e muito, o desnudamento crescente das intenções político-partidárias contidas nas atitudes do juiz Sérgio Moro e sua força tarefa de delegados e procuradores, que já não escondem que seu alvo principal é o ex-presidente Lula, mesmo em prejuízo da alardeada intenção de "varrer a corrupção institucional no País".
Nessa mesma linha de fatos relevantes no conturbado cenário político e econômico, está a agenda do PSDB, posta como pré-condição para votar com o governo "em algumas proposições". Ou seja, em matérias em que, de um modo ou de outro, o governo ceda diante das pressões do "mercado", favoreça o rentismo, reduza direitos trabalhistas ou arranhe o interesse nacional.
O ex-diretor geral da ANP, Haroldo Lima, em artigo publicado aqui no Vermelho ("Preferência no pré-sal: justo para o Brasil, bom para a Petrobras"), situa com clareza os reais interesses que estão na base das pressões para que se alterem os padrões de exploração do petróleo e do gás da camada do pré-sal. 
No atual quadro político e econômico brasileiro e nas presentes condições em que se encontra o mercado mundial do petróleo, é admissível fazer mudanças nas condições legais para a exploração do pré-sal. Mas é indispensável fixar limites, tendo o interesse nacional como fio condutor, assinala Haroldo.
Aí também se trava o jogo duro que, em última instância, permeia toda a cena política brasileira: o confronto entre projetos nacionais distintos e antagônicos.
Lidando com um Congresso Nacional majoritariamente conservador, e ainda pelejando para conquistar uma governabilidade minimante razoável, o governo tem o dever de negociar praticamente em todas as esferas, preservando, entretanto, seus compromissos fundamentais com a nação e o povo, reafirmados no último pleito presidencial.
Uma equação nada fácil, que exige descortino, firmeza de propósitos e flexibilidade tática extrema. 
Tudo tem o seu peso, sim; e não há nada que não valha a pena, desde que se mude o que for necessário mudar para seguir adiante, porém sem perder o rumo. 
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Um comentário:

Eveline Glória disse...

Valioso esse seu posicionamento. repassarei