19 abril 2016

A palavra de Melka

Golpe contra o povo
Melka Pinto*, no seu blog Uma preta sem juízo
A cabeça fervilha, os ânimos estão exaltados, existe um sentimento complexo de indignação, tristeza e muita raiva com a injustiça cometida. É preciso calma, eu que sempre digo que a gente deve colocar o coração na ponta da língua pra falar de política, defendo nesse momento difícil a frieza pra refletir sobre tudo que estamos vivendo para planejar bem os próximos passos. Quando tive minha consciência de classe despertada e entendi a necessidade de superar muitas contradições estruturais, como o caráter antidemocrático do sistema político eleitoral brasileiro, pensei que sabia do que estava falando, talvez apenas ontem eu tenha tomado total consciência do que realmente significa ter elegido em 2014 o Congresso Nacional mais conservador desde 1964.
Muitos homens, poucas mulheres, muitos homens brancos, quase nenhum negro, muitos homens votando “pela família e por deus”, quase nenhum votando pelos direitos sociais de homens e mulheres conquistados nos últimos anos que é o mais caro pra nós. Talvez somente ontem, ouvindo cada deputado daquele defender seu voto sobre autorizar o processo ou não do impeachment contra Dilma, é que tenha ficado claro pra mim o quanto aqueles que dirigem a política nacional não representam os interesses dos brasileiros e brasileiras. Como pode aqueles homens brancos, velhos, ricos, cumprindo seu 10º mandato, saber das minhas necessidades enquanto mulher, pobre, jovem, negra, trabalhadora, estudante?
Será que só eu vi isso? Será que ninguém percebe que as decisões políticas que interferem diretamente nas nossas vidas está entregue nas mãos de uma minoria que tem interesses próprios? O povo, meu pobre povo que quase não tem consciência do seu papel na disputa eleitoral, secundariza a importância do voto parlamentar, são eles nossos vereadores/as e deputados/as estaduais e federais. A gente elege Dilma com uma plataforma de compromissos populares e elege centenas de deputados que desconhecem a necessidade das pessoas na vida real e sofrida. O povo, meu pobre povo que não tem consciência de como nosso país é governado acredita que a crise econômica é culpa de Dilma e que a falta de superação da crise pela política é incompetência da aguerrida presidenta.
Pobre desse meu povo que tem o acesso à educação e à consciência cidadã e política negada, pobre do meu povo que não consegue perceber que mantê-los cegos é um negócio. O impedimento da presidenta sem crime cometido pela mesma é golpe para tirá-la do poder. É golpe para que os interesses daqueles que votaram pelos filhos e por deus sejam atendidos. É golpe para impor uma agenda política que não dialoga com as necessidades do povo. Tenho certeza que a maior preocupação da maioria dos brasileiros hoje não seja o impechmeant, se a gente fizer uma pesquisa, a preocupação vai ser o emprego que tá faltando, o medicamento que não tem, a passagem que tá cara, as pessoas estão preocupadas com as suas vidas e como elas podem viver melhor.
Me ensinaram que política deveria ser o instrumento pra transformar a vida das pessoas e acredito que não fui enganada, tenho certeza que o erro não está na esperança que a gente deposita no voto na hora da eleição, o erro está nas práticas equivocadas de condução do poder que não representam as preocupações do povo. Pois bem, meu povo, pois bem, camaradas, tem muita luta pra ser feita, esse mesmo povo tem lado e enquanto esse povo for maioria nesse país a gente pode ter esperança que a vitória é certa.  
Acabei que coloquei o coração na ponta dos dedos. A cabeça fervilha, os ânimos estão exaltados e o sentimento de injustiça, tristeza, raiva e indignação devem nos mover rumo à luta que abraça mulheres cis e trans, homens cis e trans, trabalhadores/as, crianças, jovens, negras/os, índios/as, estudantes, gays, lésbicas e diz que não vai ter retrocessos, que eles podem golpear a nossa democracia, mas nós resistiremos nas trincheiras de luta nas ruas, praças e universidades para defender o bom e o justo para o povo brasileiro, VAI DAR CERTO!
*Ex-presidente da UEP, enfermeira residente na UFPE

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