26 julho 2016

Em terreno minado

Wassily Kandinsky
Quando o alvo é o aliado algo está errado
Luciano Siqueira, no Blog da Folha

No futebol, diz-se "bater cabeça" quando zagueiros do mesmo time se confundem na marcação. Ou a orientação tática está errada, ou próprios zagueiros a desobedecem.
Na política é relativamente comum a desorientação tática, sobretudo quando a maré não está pra peixe. Ou seja, quando a situação é desfavorável e o time está perdendo. Ao invés de se combater o verdadeiro adversário, muita munição se desperdiça alvejando aliados.
É como que se aos aliados coubesse a culpa pelos próprios erros cometidos. Não faz o menor sentido e ainda piora a situação.
Ora, se o ambiente é desfavorável e a correlação de forças adversa, por que não conviver respeitosamente com as diferenças, explorar pontos de convergência e construir canais por onde se possa adiante restabelecer a unidade necessária?
Este é um dos desafios que se colocam para as forças do campo democrático e popular na atual conjuntura política.
O episódio eleitoral de outubro perpassará o evolver da luta política nacional, entretanto obedecendo a uma dinâmica própria. Daí o cenário caleidoscópico das diversas coalizões concertadas pelo Brasil afora.
Prato cheio para quem deseja exercitar a maturidade e o descortino estratégico e também prato cheio para quem prefere se embaraçar na contraditória situação imediata, alimentar a intolerância e o sectarismo, perdendo a perspectiva estratégica.
Há no pleito municipal um irrecusável embate de todas as forças de oposição contra quem governa — incluindo o conflito entre aliados em esfera nacional.
Aí não reside nenhuma novidade. Nunca as eleições municipais seguiram a lógica de uma hipotética verticalização das alianças.
Importa, contudo, distinguir "concorrentes" e "adversários" – digamos assim - tendo como referência um eventual segundo turno ou mesmo a futura gestão da cidade.
Mais ainda tendo como referência a continuidade da luta nacional.
Em outras palavras, na multiplicidade de desenhos políticos das diversas coalizões em disputa, toda simplificação mecanicista e todas as formas de sectarismo e intolerância só contribuem — no campo popular democrático — para agravar uma situação por si mesma complexa.
Isto é tão necessário quanto difícil tem sido a luta contra o impeachment da presidenta Dilma em sua reta final, quase às vésperas da votação definitiva pelo Senado.
Conquistar votos decisivos de senadores que optaram antes pela admissibilidade do impeachment não é possível à base do desaforo.
Nem a disputa eleitoral municipal pode servir de combustível à desagregação das correntes democráticas.

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