09 agosto 2016

Tendência nefasta

Tempo pior poderá vir
Luciano Siqueira, no Blog da Folha

O processo de impeachment da presidenta Dilma segue em mais um passo, hoje, no Senado, sem que jamais se tenha comprovado crime de responsabilidade cometido pela presidenta, conforme estabelece a Constituição.
É pela política e não pela justiça que se dá o impeachment.
A ameaça de interrupção do mandato da presidenta se anunciou desde que apurados os votos do último pleito.
O PSDB, reeditando a velha UDN, passou incontinenti a frequentar os tribunais com todo tipo de alegação na tentativa de validar os 54 milhões de votos que deram a vitória a Dilma.
Concomitantemente, na Câmara dos Deputados se desenhou de pronto uma correlação de forças extremamente adversa ao governo. Não apenas a maioria elegeu Eduardo Cunha presidente, como boicotou sistematicamente as iniciativas do governo no sentido de equilibrar as contas públicas e retomar o crescimento.
Em tais circunstâncias, a então coalizão governista liderada pelo PT teria que praticar a política no sentido mais elevado, combinando firmeza de propósitos com largueza e flexibilidade no intuito de deter o deslocamento progressivo de setores de centro para direita.
Tal não aconteceu, morrendo precocemente inúmeras tentativas taticamente consistentes propostas pelo PCdoB e outros aliados.
Mais do que a conhecida dificuldade de Dilma transitar no ambiente político, pesou e continua pesando até hoje uma mescla de exclusivismo e dispersão interna do partido então hegemônico.
O fato é que a ruptura da ordem democrática através do impeachment corre o risco de se consolidar de hoje até a votação definitiva da matéria pelo Senado. 
As consequências na vida política do país são dramáticas. Direitos e conquistas de larga dimensão, alcançados pelo povo dos últimos 12 anos desde o primeiro governo Lula, estão sendo desmontados em ritmo intenso pelo provisório governo Temer.
A cada dia o noticiário dá conta das "orientações" do sistema financeiro a serem seguidas rigorosamente por Michel Temer e seu grupo.
Os próprios ministros, em sucessivas entrevistas coletivas, não têm pejo ao repetirem o argumento: “para tranqüilizar o mercado”.
Tal como acontece nos Estados Unidos e na Europa, é o sistema financeiro que tem as rédeas do governo e da condução da economia no presente momento. Plenamente.
A maioria da população, ainda atônita e confusa, adiante se rebelará de diferentes formas — seja através dos movimentos organizados, seja pela explosão de protestos espontâneos.
Assim, enquanto as forças políticas dos mais diferentes matizes se ocuparão até outubro das eleições municipais, engendra-se uma nova ordem política e institucional, fragmentada, sob pressão do chamado “mercado” e da base majoritariamente fisiológica do governo no Congresso, que poderá dar em tudo - menos na solução consistente da crise que o país atravessa.

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