05 outubro 2016

O centro do debate

A realidade não cabe numa bitola
Luciano Siqueira, no Blog de Jamildo/portal ne10

Conhecer a realidade para transformá-la – assim pode ser dito, de modo simplificado, um dos postulados básicos da teoria marxista.
O corolário é partir da realidade concreta, e não enquadrá-la em esquema rígido para atender nosso desejo subjetivo.
Por isso se diz – e a História o demonstra – que a sociedade nova nasce das entranhas da velha sociedade.
Não se trata aqui de abrir uma discussão filosófica, ainda que assim em termos simplificados.
Trata-se de examinar um detalhe relevante na cena política eleitoral de agora.
Ou seja, no pleito municipal.
E a questão é: o debate se “nacionaliza” ou se cinge aos problemas locais?
No intuito de “politizar” o processo e, assim, contribuir para elevação da consciência política cidadã, estou entre os que nas campanhas sempre relacionaram os problemas da cidade com a realidade nacional. Por muitas razões, entre as quais a equação tributária que incide sobre o financiamento do poder local.
Porém historicamente esse esforço nunca teve grande aderência na realidade. No Brasil, pleitos municipais são um fenômeno político eminentemente local.
É possível que em alguns centros questões nacionais tenham ganhado maior relevo no primeiro turno encerrado no dia 2 último. Talvez, em certa medida, no Rio de Janeiro, por exemplo.
Pelo país afora não ocorre, mesmo em cidades muito politizadas, que guardam um traço histórico de disputas polarizadas.
Candidatos dos mais diversos matizes, situados à direita ou à esquerda ou centro, debateram a gestão atual e os desafios presentes e futuros da cidade.
Não me parece ser esta uma escolha meramente subjetiva. Antes é o reconhecimento da realidade subjetiva socialmente considerada e conferida em pesquisas, isto é, o interesse e as expectativas dominantes na quase totalidade do eleitorado.
Problemas políticos nacionais não devem ser interditados, é obvio. Mas é preciso ter em conta que a convergência se dá em torno do programa para a cidade, ressalvadas divergências políticas e ideológicas sobre questões de fundo.
Assim, prevalece a maturidade e o respeito às diferenças. Boas experiências de convivência democrática num tempo em que o sectarismo e a intolerância se expressam com certa força na sociedade.
Em suma, na quase totalidade das cidades os contendores não caíram no equívoco de enquadrar subjetivamente o eleitorado, nem de submeter a realidade a uma bitola.
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