16 novembro 2016

Para além da cantilena oficial

De fraque e cartola, porém com os pés descalços
Luciano Siqueira, no Blog de Jamildo/portal ne10

A imagem é do meu inesquecível avô Quincas, que viveu do fim do século 19 a meados do século 20. Quando alguém exagerava na mentira, ele sapecava:
- De que adianta se apresentar de fraque e cartola se os pés estão descalços!
Na disputa de narrativas que se instalou no pós-impeachment e corre solta um dos temas centrais é a fantasiosa recuperação da economia:
- O mercado dá sinais de confiança, repete o ministro Meirelles.
- O grau de confiança do consumidor tende a aumentar, afirma em tom pouco convincente um conhecido comentarista econômico de rabo preso com o tal mercado.
Na verdade – e aí saem de cena o fraque e a cartola e têm lugar os pés descalços -, os indicadores são outros.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o desemprego alcançou 11,8% da População Economicamente Ativa (PEA), e o poder de compra das famílias brasileiras, que vinha crescendo de 2003 até 2014, caiu 2,8% em 2015 e deve se retrair em 7% em 2016, o que corresponde a quase 10% em dois anos. 
A queda das atividades econômicas deve alcançar -3,4% em 2016. Em consequência, a arrecadação está despenca, diminuindo 8,27%, em setembro, em comparação a 2015. 
Eis a verdade nua e crua. Para além da narrativa oficial.
E não há como esperar coisa melhor. Basta a sinalização negativa da PEC 241/55, que além de restringir gastos essenciais com a educação e a saúde e programas sociais, tem claro viés recessivo.
Enquadra-se no figurino experimentado na Zona do Euro, por imposição da chamada Troika – a Comissão Econômica Europeia, o FMI e o Banco Central Europeu. Com resultados dramaticamente negativos, sobretudo na Grécia.
Então, muito mais do que a cantilena oficial, reverberada pela grande mídia, pesa a realidade concreta, o chamado bolso do assalariado.
Daí a absoluta necessidade de se aprofundar o debate acerca dos rumos do País, buscando respostas eficazes para a crise.
O que não é fácil na conjuntura atual de franco domínio conservador e de imposição do discurso único neoliberal. 
A resistência popular ao que está estabelecido, embora crescente, ainda não produziu uma plataforma capaz de unir todas as forças hoje postadas na oposição e atrair insatisfeitos dos mais diversos matizes. Desafio a ser arrostado já, antecedendo o próximo pleito presidencial e, em certo sentido, mesmo à margem dele.
Um embate político de grande envergadura, que marcará a cena política brasileira nos próximos anos.

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