12 novembro 2016

Trabalho político junto ao povo

O elemento consciente e o curso dos acontecimentos
Luciano Siqueira, no portal Vermelho e no Blog do Renato

O “elemento consciente” a que aqui me refiro — para usar uma expressão clássica da literatura marxista — é a compressão política do que se passa.
Em sua obra clássica "Que fazer?", Lenin abordou o tema, nas circunstâncias de então, com tal propriedade que ainda hoje suas considerações essenciais são válidas, devidamente adequadas ao mundo atual.
Se após a primeira revolução industrial já se podia falar numa consciência política “espontânea” das massas, insuficiente, hoje — quando a informação circula em tempo real e historicamente os povos já acumularam imensa experiência de lutas —, mais ainda é possível dizer que o cidadão comum consegue fazer o seu juízo de valor, com algum tempero político, sobre os fatos que o envolvem no cotidiano.
Mas a porca entorta o rabo em razão dos multifacetados instrumentos de comunicação nas mãos da elite dominante, usados de maneira sofisticada e continuada para distorcer a percepção da realidade e formar o consenso social que lhe interessa.
Daí a compreensão fragmentada e circunscrita ao fato imediato, aparentemente desconectado dos acontecimentos em geral.
Fazer a conexão do particular com o geral (no curso real das lutas) e a partir daí ajudar o individuo a compreender a essência de cada fato particular como parte do todo — ensinava Lenin — é precisamente o desafio do militante, do ativista e, em dimensão maior, dos líderes.
O recente pleito municipal configurou uma verdadeira onda conservadora que varre o país. Com o PT e a esquerda em geral, incluindo o PCdoB, em desvantagem e na defensiva.
Isso após 12 anos de governo nacional sob hegemonia do PT, que promoveu a mais expressiva elevação das condições de vida do povo brasileiro em sua história.
Um tempo bicudo de hoje, onde cabe investigar a qualidade do trabalho político que temos realizado junto aos milhões beneficiários das conquistas alcançadas. A partir mesmo do PC do B, que é nossa seara.
Pois se é certo que erros graves cometidos pelos petistas no governo - por práticas não republicanas e, sobretudo, na condução tática da coalizão governista -, deram azo a que a direita e o complexo midiático encetassem a extraordinária campanha de descrédito e desmoralização do Partido dos Trabalhadores, ainda em curso, impressiona a vulnerabilidade subjetiva da maioria da população.
Vale dizer: no período progressista, não se elevou, na dimensão necessária, o nível de consciência e de organização do povo brasileiro.
O fato é que dessa tarefa de sentido estratégico não dão conta a prestação de serviços governamentais como dádiva, nem o corporativismo sindical, nem agitação geral na onda dos movimentos ocasionais, nem a superficialidade típica das redes sociais que subestima o debate político. 
Quando da débâcle da União Soviética e em meio à profunda crise da luta pelo socialismo, João Amazonas publicou na revista “Princípios” artigo conciso, porém esclarecedor a partir do próprio título: "Defender e desenvolver a teoria marxista — exigência da época atual”.
No texto, o velho e experimentado dirigente comunista definiu a pauta teórica e política, que o PCdoB tem desenvolvido desde então com considerável êxito.
No Brasil de Temer e no mundo que assiste perplexo a eleição de Trump nos EUA, as forças populares e progressistas não resistirão com eficácia, nem acumularão forças para uma contra-ofensiva futura, se persistirem na subestimação da luta de ideias.
Cá entre nós, nunca foi tão necessário debater a realidade concreta à luz da teoria e da linha programática do PCdoB. Para elucidar os complexos problemas que nos desafiam e elevar a qualidade do nosso trabalho político cotidiano junto ao povo.  

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