11 dezembro 2016

Intenções escusas

Uma coincidência providencial
Tereza Cruvinel, Brasil 247

No dia em que Temer, Padilha, Moreira, Alckmin e outros peemedebistas e tucanos foram alvejados pela primeira delação da Odebrecht, o Ministério Público Federal resolveu apresentar mais uma denúncia contra o ex-presidente Lula, numa coincidência que teve o condão, calculado ou não, de dividir as atenções e equilibrar as avarias. A denúncia de que ele fez tráfico de influência no caso da compra dos caças suecos Grippen agride a lógica dos fatos que cercaram o negócio de US 4,5 bilhões para atender a uma demanda da Aeronáutica que se arrastava há mais de dez anos. O ex-ministro da Defesa da época, Celso Amorim, considera a denúncia absurda e espantosa e aponta as razões que levaram a Aeronáutica a optar pelos aviões suecos.
- Li com espanto as notícias sobre esta absurda denúncia. Os Grippen sempre foram a preferência da Aeronáutica e a escolha foi estritamente técnica,  baseada em uma análise que levou em conta a combinação de três fatores: performance, custo (preço mais manutenção) e transferência de tecnologia. Pouco antes do anuncio da decisão, em dezembro de 2013, o comando da aeronáutica reafirmou em documento que certamente consta dos arquivos do Ministério da Defesa,  as razões que o levavam a optar pelos caças suecos. Não houve a mais remota interferência do ex-presidente Lula nesse processo - disse Amorim ao 247.
 Ao longo de seu governo, Lula foi acusado de ter preferência pelos Rafale, modelo que a França empenhou-se em vender ao Brasil. Esta opção seria contrária aos  pareceres técnicos da Aeronáutica, que se inclinava pelos Grippen suecos. Quando se esperava que ele batesse o martelo ainda em seu governo, em novembro de 2010 Lula anunciou que deixaria a questão para sua sucessora já eleita, Dilma Rousseff. Preferia não autorizar um negócío de tal envergadura no apagar das luzes de sua gestão.
Finalmente, em 18 de dezembro de 2013, o governo anunciou a compra de 36 caças supersônicos do modelo sueco Grippen, ao preço de US$ 4,5 bilhões, a serem pagos até 2023. Não faltaram notícias de que Dilma contrariou Lula em sua preferência pelo modelo francês, que teria motivado a aproximação com o governo de Nicolás Sarkozy. A Boeing também concorria ao negócio. O ministro da Defesa, Celso Amorim, fez o anúncio afirmando que a decisão “foi objeto de estudos e ponderações muito cuidadosas".
No início deste ano a Operação Zelotes, desviando seu foco dos sonegadores que pagaram milhões aos conselheiros  do CARF para se livrar de multas bilionárias da Receita Federal, passou a mirar Lula. A denúncia diz que as investigações concluíram que o lobista Mauro Marcondes fez lobby para a empresa sueca e usou a influência de Lula junto a Dilma. Que ele a acompanhou ao enterro de Nelson Mandela para lá “acertar” com o líder do Partido Social Democrata e futuro primeiro-ministro da Suécia, Stefan Lofven, a compra dos Grippen. E com isso, garantiu para seu filho, também denunciado, uma comissão mísera  de R$ 2,5 milhões sobre um negócio de US$ 4,5  bilhões. 
Algumas perguntas os procuradores não se fazem: Uma. Por que Lula, querendo comissão, não fechou o negócio quando era presidente? Outra: se ele fez lobby junto a Dilma, e ele aceitou o tráfico de influência, por que não foi denunciada? E a participação da Aeronáutica, que tudo avalizou, não suscitou nenhuma dúvida ou suspeita?
Num processo a quê a defesa não teve acesso, nem mesmo depois de oferecida a denúncia, a lógica e o histórico não deve ter a menor importância. Muitos menos as provas, que não apareceram, do tráfico de influência de Lula junto a Dilma e ao Ministério da Defesa.

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