25 outubro 2017

Contestar o absurdo

Risco de banalização do inaceitável
Luciano Siqueira, no Blog da Folha

Manchete principal de um dos sites noticiosos de audiência nacional, hoje cedo: “Temer assume pessoalmente balcão de negociações às vésperas da votação de denúncia.” Ao que completei no Twitter: “Mais deplorável é que ele age assim desde que usurpou o governo.”

Como a nação inteira presencia diariamente.

E o mais grave é que o noticiário há muito vem tratando as vergonhosas manobras cotidianas de Michel Temer e do grupo que com ele governa com absurda naturalidade.

Pesa mais a contabilidade das adesões ao presidente na votação da denúncia da Procuradoria Geral da República, na Câmara dos Deputados, do que o teor das negociatas celebradas por ele próprio e seus ministros mais íntimos.

Ao risco de passarem como “naturais“ a redefinição dos parâmetros de avaliação do trabalho escravo, o perdão de parte considerável das dívidas de multas de proprietários rurais infratores ambientais e assim por diante.

Ainda nos anos 60, na apresentação do seu livro “Tortura e torturados no Brasil“, o jornalista Márcio Moreira Alves mencionou uma reunião de pauta do órgão em que trabalhava, o Jornal do Brasil, na qual, diante da informação de novas prisões e torturas de militantes políticos, um dos participantes comentara que aquele tipo de notícia já vinha se banalizando e não mereceria destaque.

Márcio, então, assustado com tão absurda opinião, decidira reunir num volume todos os casos conhecidos de violência cometida pelos militares até então.

De modo semelhante, ouvi hoje um comentarista político de uma emissora de rádio dizer que a corrupção no governo Temer como método de auto-sustentação já não seria mais novidades e, portanto, o mais essencial é avaliar as possibilidades do presidente vencer a votação de amanhã com maior ou menor margem.

Daí se poderá deduzir, em parte, no dizer do comentarista, com que autoridade (sic) Temer seguirá governando.

Eis aí um risco real de cristalização, pela pior via, do ambiente geral de descrença e desengano que envolve a maioria dos brasileiros e brasileiras na atual conjuntura 

Ao contrário, há que crescer a justa indignação no espírito do nosso povo a cada revelação das tramóias cotidianas de Temer e seu grupo.

Jamais se deve ter como “natural” a permanência do presidente no cargo que usurpou via golpe institucional e que exerce cumprindo uma agenda por todos os títulos inaceitável, de desmonte do Estado nacional, de regressão de direitos e de favorecimento a interesses e privilégios dos piores segmentos da elite tupiniquim.

Leia mais sobre temas da atualidade: http://migre.me/kMGFD

Nenhum comentário: