02 maio 2018

Palavra consistente e guerreira


Um 1º de Maio contra o neocolonialismo e a miséria
Manoela D’Ávila, no Vermelho

Uma das marcas dos tristes tempos que o Brasil está vivendo é o empobrecimento da população, fruto dos ataques continuados contra os trabalhadores e trabalhadoras. Ela é fruto de três fenômenos que operam combinadamente: a ausência de crescimento econômico, a desindustrialização e a destruição dos direitos de quem trabalha.

À malfadada reforma trabalhista, que retirou direitos consolidados dos trabalhadores e abriu espaço para um achatamento dos rendimentos, se soma a liquidação do parque industrial brasileiro, responsável pelos empregos de melhor qualidade, e a gestão dos preços macroeconômicos baseada na austeridade. Para ficarmos em apenas um exemplo dessa política de destruição nacional, o ano de 2017 registrou a menor taxa de investimento público dos últimos 50 anos. Também nisso voltamos a 1968...

Foi em 2014 que a renda real do trabalhador brasileiro atingiu seu ápice. Nesse ano, os assalariados tiveram sua capacidade de compra elevada em 5% acima da inflação do período, em comparação a 2009. A partir daí, um processo iniciado pela crise econômica internacional foi levado ao paroxismo pelas medidas do governo Temer e produziram uma derrocada geral dos vencimentos dos trabalhadores e trabalhadoras. Até o final de 2016, quando se deu o golpe, a queda do salário real atingiu rapidamente a casa dos 9% e seguiu em declínio. No decorrer de 2017, o assalariado perdeu mais 2% de seu ganho, totalizando 11% desde 2014.

Mas essa defasagem de 11% em três anos não resume toda a perda de poder aquisitivo de nossos trabalhadores. Além disso, a massa salarial real paga pela indústria também caiu 17% entre 2014 e 2017 uma vez que a indústria nacional foi o setor que mais sofreu com o encolhimento do mercado interno.

Em um cenário de renda decrescente, desemprego, endividamento pelos juros escorchantes praticados pelos bancos, outro agravante prejudicou as contas das famílias brasileiras: o preço de despesas incontornáveis como a energia e o botijão de gás subiu muito além da inflação. No caso da energia, o aumento foi de quase 40%. No caso do gás, 55%. Na prática, esse aumento em contas tão difíceis de reduzir como o gás teve um enorme impacto na vida cotidiana das famílias. Muitas tiveram que fazer cortes drásticos em outras despesas para continuarem podendo fazer algo tão básico quanto cozinhar. Outras caíram no endividamento sistemático.

Quando a perda de renda chega a um lar que já enfrenta outros problemas como o desemprego de algum de seus membros, o resultado é que jovens interrompem seus estudos, adultos cortam despesas médicas, crianças têm seu bem-estar comprometido. Nos casos mais graves, não há dinheiro sequer para sair de casa e procurar um novo emprego, uma realidade para tantos brasileiros que se vêem na humilhante situação de serem excluídos de seu direito ao trabalho.

Hoje, nada disso encontra-se em vias de melhora. Tanto a energia quanto o gás devem continuar a subir em 2018. A pressão que empurra os salários para baixo e, com ele, toda a perspectiva de um futuro melhor, tampouco tem data para terminar. Em meio a este quadro, os herdeiros do golpe de 2016 posicionam os seus candidatos e candidata e promovem uma perseguição inaceitável que encarcerou o maior líder popular do país. Tudo está organizado pelos donos do poder para a vitória de um dos candidatos do liberalismo que sustentam, malgrado diferenças menores,o mesmo programa: a submissão do trabalho aos interesses do capital financeiro e a genuflexão da Nação diante do neocolonialismo. Este primeiro de maio tem como tarefa mais importante estragar esse festim diabólico e preparar a derrota dos inimigos da nação e do povo.

Manuela D'Ávila é deputada estadual e pré-candidata a presidenta da República pelo PCdoB

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